São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005
Novos filmes alemães enfocam o regime de Adolf Hitler a partir da história privada
JOSÉ GALISI FILHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BERLIM
Bruno Ganz interpreta Adolf Hitler no filme "A Queda - As Últimas Horas de Hitler"
Depois do sucesso do épico "A Queda - As Últimas Horas de Hitler" ("Der Untergang"; com previsão de estréia no Brasil em 6 de maio), do diretor Bernd Eichinger, sobre os últimos dias de Hitler em seu bunker, indicado para o Oscar, com mais de 4,5 milhões de espectadores na Alemanha, o Festival International de Berlim foi marcado por uma nova geração de diretores que vêm retrabalhando o passado nazista na perspectiva da esfera privada e dispensam, deliberadamente, a distância e o didatismo do formato documentário para se articular como narrativa visual autônoma.
O fenômeno reflete uma mudança de perfil do público, de fato, uma privatização da memória visual do país, amparada por um "boom" de séries televisivas nos últimos anos que reconstroem a história privada do Terceiro Reich. As estratégias de direção buscam uma limitação do horizonte visual do espectador, que deve produzir uma superação do interdito à representação. O fascismo não deve mais ser olhado de fora, mas, sim, do interior claustrofóbico de sua dominação, doença e de seu terror.
"Sophie Scholl - Os Últimos Dias" ("Sophie Scholl, die Letzten Tage"), do diretor Marc Rothemund, interpretada pela atriz Julia Jentsch, relata a história do Rosa Branca, um grupo de estudantes que em 1943 distribui panfletos na Universidade de Munique, convocando a população à resistência civil. Sophie e seu irmão Hans foram julgados pelo legendário juiz-carrasco Roland Freisler do processo contra a generalidade, que tentou assassinar Hitler em 1944. Sophie Scholl, para quem as convicções políticas eram mais importantes que sua vida, não entregou nenhum de seus companheiros. A direção não mitifica a figura como heroína, nem tampouco a tipifica como vítima, mas se concentra na decisão individual de resistir ou não, ou seja, a questão geracional que se coloca para os novos diretores é: como eu teria me comportado concretamente em tais condições. Esta pergunta não é apenas retórica na Alemanha, e este é o subtexto político claro do filme, pois no dia da estréia em Berlim, o NPD, a direita parlamentar radical, cada vez mais forte e provocativa, realizou uma grande demonstração em Dresden, contra o "holocausto" dos bombardeios aliados.
Já "Duas ou Três Coisas que Eu Sei sobre Ele" ("2 oder 3 Dinge, die Ich über Ihn Weiss"), do diretor Martin Ludin mergulha no pântano autobiográfico de três gerações desde 1945, na desconstrução de uma grande mentira familiar e de uma estratégia de normalização e esquecimento coletivo que funcionou durante décadas, para quem o pai havia sido vítima de uma "luta de resistência". No começo do filme, afirma Ludin: "Esta é a história de meu pai, um criminoso de guerra", executado em 1947 na Tchecoeslováquia por sua participação na deportação e extermínio de judeus. Entre o amor ao pai e a verdade histórica, prevalece a ruptura.
Mais arrojado e provocativo do ponto de vista formal, "O Experimento Goebbels", de Lutz Hachmeister, produtor e professor de jornalismo e história da mídia na Universidade de Dortmund, e Michael Kloft, editor de "História", da TV Spiegel, dispensa a mediação do comentário histórico ao construir a narrativa pela exposição direta, em primeira pessoa, de Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da Propaganda de Hitler, a partir de seus "Diários", escritos entre 1924 e 1945.
Wednesday, 19 October 2011
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